o reformador tcheco jan hus

Posted in Uncategorized by teologarte.com.br on 17/08/2009

(the czech reformer john huss)

 

Leia a transcrição do video:

Xilogravura com imagem de Jan Hus

Xilogravura com retrato de Jan Hus

Bem-vindos a Praga, a charmosa capital da República Tcheca e meta de milhões de turistas do mundo inteiro. Praga é conhecida por sua bela e variada arquitetura, pelo enorme castelo que parece saído de um conto de fadas e pelo curioso relógio astronômico que pode ser visto na praça da cidade velha, além de ser a terra natal do famoso escritor Franz Kafka. Mas muita gente não conhece a história de outro personagem muito importante na história tcheca e na história do cristianismo, que é homenageado com um grande monumento na principal praça de Praga: o reformador e mártir Jan Hus, ou, se quisermos traduzir seu nome, “João Ganso”.

Interior da Capela de Belém, Praga

Interior da Capela de Belém, Praga

Jan Hus nasceu por volta de 1370 na pequena cidade de Husinec, no sul da região conhecida como Boêmia, atual República Tcheca. Mas foi em Praga que Hus estudou e foi ordenado padre, em 1402. Durante aproximadamente dez anos, pregou o Evangelho em língua tcheca na igreja conhecida como a “Capela de Belém”. Suas pregações atraíam desde pessoas pobres até membros da nobreza tcheca – a própria rainha costumava vir ouvir as palavras de Hus. Enquanto estudava na Universidade de Praga, Hus conheceu os escritos do inglês John Wycliffe, padre e professor da Universidade de Oxford que, já no século anterior, questionara diversos dogmas da igreja medieval. A pregação de Hus, influenciada pelas idéias de Wycliffe, encontrou solo fértil em Praga, onde já existia um forte movimento reformista e nacionalista, ligado à emergência da própria língua tcheca e à afirmação de uma identidade nacional “boêmia” em oposição ao Sacro Império Romano Germânico, do qual a região fazia parte.

Jan Hus na fogueira, afresco na Capela de Belém, Praga

‘Jan Hus na fogueira’, afresco na Capela de Belém, Praga

Hus condenava a prática de comprar cargos eclesiásticos (a chamada simonia), bem como o estilo de vida imoral e corrupto do clero da época. Para ele, o sacerdote deveria levar uma vida simples, de pobreza e de humildade. Denunciava como blasfêmia a atitude de certos padres que afirmavam ter poder para perdoar pecados, sendo que alguns ainda exigiam dinheiro em troca desse falso perdão. Na celebração da eucaristia, Hus achava que os leigos também deveriam ter direito de compartilhar do cálice. Séculos antes, a igreja havia adotado a prática de dar ao povo somente o pão, mas não o vinho. Assim como Lutero e como os católicos até hoje, Hus acreditava que o próprio corpo e o sangue de Cristo estão presentes nos elementos da ceia. Assim, como diria um seguidor de Hus, quando os padres se recusavam a compartilhar o cálice com o povo, tornavam-se “ladrões do sangue de Cristo”.

A gota d’água veio quando um dos papas da época resolveu promover a venda de objetos sagrados, chamados de indulgências, para arrecadar fundos para uma guerra em que estava envolvido. Tal prática foi abertamente condenada por Hus, que acabou sendo proibido de pregar, em 1410, e foi excomungado pela Igreja Católica. Durante certo tempo, Hus ainda pôde contar com a proteção do rei da Boêmia, mas quando, em 1412, conveniências políticas fizeram que fosse mais interessante para o rei apoiar o papa, Hus foi forçado a abandonar Praga.

Vaclav Brozik: 'Jan Hus no Concílio de Constança', 1883

Vaclav Brozik: ‘Jan Hus no Concílio de Constança’, 1883

No exílio, escreveu vários livros e cartas e, em 1414, compareceu de livre e espontânea vontade ao concílio que estava sendo realizado na cidade de Constança, onde esperava poder se defender das acusações contra ele. Apesar de contar com um salvo-conduto do imperador, o que deveria lhe garantir proteção, Hus foi preso assim que chegou a Constança e, após alguns meses passados em condições desumanas, foi sumariamente julgado, condenado e queimado como herege em 6 de julho de 1415.

É interessante notar que Hus foi reconhecido como um precursor da Reforma Protestante pelo próprio Lutero, que aplicou a si mesmo uma profecia atribuída a Hus *. Antes de enfrentar a fogueira, Hus teria dito: “vocês hoje estão queimando um ganso, mas, daqui a cem anos, vão ouvir um cisne cantar, e esse cisne vocês não poderão queimar nem prender”. 102 anos depois da morte do reformador boêmio, Lutero publicaria suas 95 teses em Wittenberg.

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* (NOTA: Segundo o historiador Philip Schaff, essa profecia foi
falsamente atribuída a Hus, provavelmente quando
Lutero já estava em plena atividade.)

 

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1 comment

Uma resposta

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  1. Rita de Cássia said, on 22/03/2011 at 01:02

    Parabéns pela criatividade, sensibilidade e amor! Gostei muito!


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